Medida que deveria ter durado seis meses já completa um ano e meio, enquanto dívidas, atrasos e falta de transparência persistem
O prefeito José Henriques extendeu a intervenção no Hospital de Cataguases por mais doze meses, marcando a segunda prorrogação desde que a medida foi implementada em abril de 2024. O decreto 6.153/2025, publicado no jornal oficial do município, mantém a interventora atual no comando da instituição até 16 de outubro de 2026.
A decisão levanta questionamentos sobre a efetividade da estratégia adotada pela prefeitura. O que foi planejado inicialmente como uma intervenção de seis meses para corrigir desvios administrativos já se arrasta por um ano e meio, sem que os principais problemas identificados tenham sido solucionados de forma satisfatória.
Especialistas apontam que questões críticas permanecem sem resposta adequada. A transparência na administração dos recursos públicos destinados ao hospital continua sendo alvo de críticas, enquanto os gastos com empresas terceirizadas apresentaram crescimento significativo. A folha de pagamento também registrou aumento, sem que isso tenha se traduzido em melhorias perceptíveis na qualidade do atendimento ou na regularização dos compromissos financeiros.
O endividamento da instituição permanece como um dos obstáculos mais desafiadores. Médicos, funcionários e fornecedores seguem enfrentando atrasos recorrentes nos pagamentos, situação que compromete não apenas a motivação das equipes, mas também a continuidade dos serviços essenciais. A ausência de uma gestão especializada capaz de implementar soluções estruturantes é outro ponto de preocupação mencionado por quem acompanha a situação de perto.
Um relatório técnico elaborado pelo Sistema Nacional de Auditoria do SUS (SNA) identificou diversas irregularidades que persistiram mesmo após o início da intervenção. A prorrogação do prazo evidencia que as medidas adotadas até agora não foram suficientes para corrigir as falhas operacionais e administrativas que motivaram a decisão inicial de intervir na Santa Casa de Misericórdia.
Segmentos da sociedade civil têm questionado também a atuação do Ministério Público (MP) no controle da aplicação dos recursos públicos em saúde. A percepção é que a ausência de manifestações públicas e incisivas do órgão, seja cobrando resultados concretos ou propondo soluções alternativas, enfraquece o processo de fiscalização e o controle social sobre o tema, gerando desconfiança.
No decreto que oficializa a nova prorrogação, o poder público municipal reconhece que os déficits continuam representando ameaça à manutenção dos serviços hospitalares. O texto admite que a gravidade da situação exige mais tempo para reestruturação, mas não apresenta um cronograma claro de metas ou indicadores que permitam à população avaliar o progresso das ações.
A justificativa oficial para manter a intervenção: o risco de colapso em caso de interrupção imediata, paradoxalmente, apenas evidencia a sua baixa resolutividade. Argumenta-se que a retomada da gestão anterior resultaria na paralisação completa do atendimento, justamente pela ausência de avanço na solução dos problemas crônicos e do endividamento. Além disso, a falta de clareza sobre o cronograma de transição impede saber quando a instituição estará apta a reassumir sua autonomia administrativa.
A interventora Grazielle de Almeida Vecchi, que ocupa o cargo de Superintendente Assistencial, foi mantida na função. Ela permanece responsável pelas competências estabelecidas no decreto original de 2024, que incluem a gestão financeira, administrativa e assistencial do hospital.
A comunidade de Cataguases acompanha com apreensão o desenrolar da situação. O hospital é referência regional e sua eventual deterioração impactaria diretamente milhares de pessoas que dependem dos serviços oferecidos pela instituição. A falta de respostas objetivas sobre os caminhos para a solução definitiva dos problemas alimenta a insegurança.
O prolongamento sucessivo da intervenção sem resultados tangíveis coloca em xeque a capacidade do poder público municipal de conduzir processos complexos de reestruturação hospitalar. A experiência de Cataguases pode servir de alerta para outras cidades que enfrentam desafios semelhantes na gestão de suas unidades de saúde.
Enquanto isso, os números continuam preocupantes. As dívidas não foram equacionadas, os atrasos persistem e a transparência prometida ainda não se materializou. A população aguarda por sinais concretos de que a intervenção, enfim, cumprirá os objetivos pelos quais foi instituída há um ano e meio.
Por Mídia Mineira.
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