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    sexta-feira, 26 de abril de 2024

    CARTAS DA PROVÍNCIA - Capítulo 06 - Não contaram com minha astúcia

    Crônica de Chico Aguiar

    ATENÇÂO: “Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”.

    Praticamente restabelecido do inchaço no joelho em decorrência de minha cena de cine-pastelão relatada na semana passada, retorno sem pressa ao cotidiano. Apesar da calma, fico ansioso para receber notícias do Joel. As histórias de Morro dos Carcarás são curiosas e, certamente, há muita “versão” nos relatos de meu amigo. Apesar disso, estou curioso sobre o que contará a cada vez.

    “Tudo bem com você, meu amigo? Espero que sim. Comigo, com Priscila e o resto da família, tudo bem. A vida aqui é agitada, sabe bem. A novidade agora é de dar coceira na barriga de bombeiros. Aqui o parquinho está pegando fogo. Não literalmente, graças aos santos. 

    Sei. Sim, tenho que explicar. Como sabe sou professor de História e, apesar de não ter a sua capacidade de Linguista, tenho como um dos meus hobbies anotar num pequeno caderno as expressões populares como, por exemplo “matar cachorro a grito”, “chato de galocha”, “amigo da onça” e “o parquinho tá pegando fogo”. Essa última que citei, tenho certeza de que sabe, é quando a situação está num alvoroço só, um furdunço, como se diz nessa região de Minas.
    Vou tentar explicar, mas realmente é uma confusão com ares de um “tiro pela culatra”.

    “Vou começar pelo começo” – e usando algumas expressões como essa que veio a calhar. Lá pelos anos de 1930, o Coronel Cremado, o benfeitor de Morros dos Carcarás, após perder um de seus filhos sem cumprir a promessa de levar o menino para andar na roda-gigante na cidade grande, construiu e doou aos carcarenses, através de uma associação entre a prefeitura, câmara de vereadores, clube de empresários e advogados, um grande parque de diversão para alegrar a população, como ele dizia, assim contam aqui, “que o meu lamento se transforme em alegria e também para que eu nunca me esqueça do sorriso de meu filho”. Poético, não é? Mas eu não acredito. A História me ensinou que os que têm o Poder em mãos, “nunca dão ponto sem nó”. Se algo foi feito, tem motivo, tem lucro para alguns.

    Esse parque ficou tão famoso, mas tão famoso que para cá se dirigiam muitas pessoas de cidades vizinhas. E deu dinheiro. Muito dinheiro. Durante muito tempo todos os serviços de manutenção das atrações estavam em dia. Mas dos últimos anos para cá infelizmente a manutenção do maquinário ficou pesada. Assim a dificuldade chegou ao caixa. Mas o parque que tem o nome de Alceu Cremado, filho do coronel, continuou dando vidas, sorrisos e alma nova à população. As pessoas pareciam entrar como quase mortas e quando saiam estavam vivas, alegres e gratas.

    E estamos num ano eleitoral, não é mesmo? Aí o palito de fósforo começa a rodar em torno da caixa ao lado do galão de gasolina, afinal o “parquinho vai pegar fogo”. Vou explicar melhor. Entre as dezenas de pontos nevrálgicos da atual administração da cidade, está o desgosto da população com a falta de investimentos na área de diversão, o que chega a ser um caso de saúde, em vista de que o povo necessita dessa válvula de escape para se manter de pé. Além disso, o gerente do parque, escolhido pelas entidades que compõem o conselho fiscal e deliberativo, sempre se destacou pela sinceridade e nunca escondeu o que pensava e não entendia a falta de apoio do governo municipal para a concreta manutenção do centro de diversões. Sabedor ainda de que milhões iriam aportar na conta do parque, vindos através de emendas de um ex-deputado federal para restaurar e revigorar o parque que, por sinal, é Patrimônio Histórico tombado, a administração municipal decidiu fazer uma intervenção. E começou assim esse teatro do absurdo, do patético como há muito não acontecia na região do Rio dos Tejucos.

    Como se fosse um exército capenga que tenta tomar de assalto uma trincheira inimiga, passadas algumas horas do início da noite, uma equipe de “interventores” foi, com decreto na mão, destituir a gerência e alguns de seus assessores. Normalmente àquela hora a “terra da alegria” se preparava para fechar.  
    No dia seguinte o fato caiu como bomba nas rodas de amigos, nas duas rádios da cidade, nos bares e, principalmente na Câmara que, convocou com urgência-urgentíssima uma reunião extraordinária para entender as explicações dadas pelos implicados no caso. Nessa reunião a voz da oposição cresceu e nem pio se ouviu daqueles que supostamente apoiavam a intervenção. Conforme se ouvia nos debates, o assunto era claramente visando as eleições. Dessa forma defendeu um vereador de oposição que lembrou a “grande coincidência da intervenção durar exatamente seis meses, um dia após o resultado das urnas, o parque sai dessa intervenção”.  Outro, também exaltado, disse que é “uma jogada política, eleitoreira, de quem só pensa em se manter no Poder e beneficiar os ricos”. Isso é que é “liberdade de expressão”. Outro vereador criticou a falta de investimento nos parques e praças da cidade: “Não fazem o dever de casa e querem intervir na diversão alheia”, disse.

    Assim o fósforo foi acendido e acabou caindo na gasolina ao lado da principal casa de máquinas do Parque. Pelo menos é assim que meu lado de historiador percebe.
    Nesse mesmo dia, os dois programas de rádio ao estilo Roda-Viva da TV Cultura, trouxeram à baila a informação de que o conselho da intervenção foi dado com aval de um famoso advogado da terra que, por anos, foi membro do Ministério Público. Nisso que o seu nome foi citado durante os programas, o antigo promotor fez questão de ligar para as rádios e explicar que “tinha sido consultado sobre a crise do Parque, mas não aconselhei nenhuma intervenção, já que acredito que essa decisão deve ter a anuência de todos, da sociedade civil e nem a Câmara Municipal, pela sua importância, foi consultada”. Por sinal, ainda chamou a atenção de que a imprensa não foi chamada para ser testemunha do ato que atinge toda a comunidade. Toda imprensa não. Ele salientou que apenas um jornal virtual foi informado, o que não significa nada em especial, mas “é estranho”, explicando tudo.

    O fogo estava alto, mas os rumores de “tiro dado no pé” estavam tomando a conta do centro nervoso da cidade, o Café Tonelero. Esses rumores estavam ficando mais altos do que as labaredas de um possível e verdadeiro incêndio. E o desespero de alguns era visível. O doutor Panaceia tentou explicar. Não conseguiu. O seu chefe tentou e também não conseguiu. 

    Dois dias depois, quase fechando a semana, o antigo gerente fez questão de ir aos programas de rádio para dizer que tudo foi politicagem e que, infelizmente, a população corria o risco de ficar sem o parque. Ele disse em bom português que “isso que está sendo feito é imoral, já que nunca deixei de alertar de que a situação de alguns maquinários estava difícil, mas que tudo iria melhorar já que o ex-deputado nos ajudou muito através de sua atuação indicando uma verba excepcional”. E continuou, “por sinal, sempre quis ser transparente em minha gerência e até fiz um vídeo para agradecer ao ex-deputado que, quero deixar muito claro, nunca falou em votos comigo; com a divulgação desse meu obrigado e reconhecimento, veio a intervenção dias depois. Para quem sabe ler...”. 

    E assim está a história até o momento. Na verdade, parece coisa de novela, mas daquelas mexicanas com tramas patéticas de tão ridículas. Erros e mais erros, mas tudo em ano eleitoral. E com coisa pública não se pode brincar, não é mesmo? Agora me lembrei do Chapolin Colorado que sempre, ao final, dizia “não contavam com a minha astúcia!”. Estava em dúvida se era isso mesmo, mas a Priscila, que não para quieta, respondeu que era essa a expressão do herói da infância de muitos.

    Ela, por sinal, repetiu a frase duas vezes rindo, rindo. Para depois dizer “calma, calma, não criemos pânico”.

    Pelos comentários que ouço, muita coisa vai acontecer no desenrolar da história. Se será algo para trazer felicidade, não sei. Apenas sei que alegria é saúde. E sem o Parque, Morro dos Carcarás ficará doente.

    Por Chico Aguiar.


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    Item Reviewed: CARTAS DA PROVÍNCIA - Capítulo 06 - Não contaram com minha astúcia Rating: 5 Reviewed By: Mídia Mineira
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