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    segunda-feira, 18 de março de 2024

    CARTAS DA PROVÍNCIA - Capítulo 01 - Cadê o empreiteiro?

    Crônica de Chico Aguiar

    ATENÇÂO: “Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”.

    Por muitos anos evitei de uma forma categórica participar das chamadas mídias sociais. Tive uma aventura no mundo virtual com o Orkut, no tempo do computador a vapor. Agora, já devidamente adentrado no Século XXI, utilizo até mesmo um celular moderno que só falta pintar o rodapé do assoalho. Invocado pela necessidade, acreditando ser um expert, inscrevi-me no Facebook. Com ajuda de amigos coloquei uma foto jeitosa, de sorriso largo para, em seguida, sair à caça de conhecidos. Sem muita habilidade, listei alguns nomes no campo de busca. Surgiu o nome de Joel Henriques, de minha infância, dos jogos de futebol no campinho de terra, dos deveres de casa nunca feitos e parceria nas antigas matinês de Tarzan no cinema da praça. Foi um amigo marcante que num dia foi chamado na sala de aula pela diretora. Nunca mais retornou. Soube depois que sua mãe foi parar no álbum de fotografias. Um infarto a levou. Dois dias depois do enterro, mudou-se para a capital. Foi viver com a avó. 

    Agora, 52 anos depois da ida sem despedida, o reencontro virtual. Acabamos resgatando a amizade que nem o tempo conseguiu rasgar. Contou-me que, aposentado, reside no interior do estado, numa pequena cidade muito parecida em muitos aspectos com a nossa. Casado, com dois casais de netos, passa os dias em rusgas com a esposa que cansada da cidadezinha sonha em voltar para a metrópole e seus dias de corre-corre.

    Henriques queria ser escritor. Não conseguiu. Acabou como professor de História no antigo grupo escolar em que estudou após ir morar com dona Leninha, a avó materna. 

    Nessa semana recebi uma carta do amigo. Isso mesmo: uma carta. Uma forma quase paleolítica de se comunicar. Hoje os jovens não sabem o que é. Desconhecem o sabor de escrever, com as paradas da caneta quando se elabora o pensamento. Melhor ainda é receber um envelope. Rasgá-lo para encontrar as digitais que contam causos.

    É, essa carta, tão interessante que irei trazer trechos para os amigos que aqui poderão saber o que ocorre na pequena Morro do Carcará, município encravado nas margens do Rio do Tejuco. Tendo ao Norte a Serra do Suvaco de Cobra com seus três picos majestosos: Coral, Cascavel e Carcará. Com cerca de 35 mil carcarenses viventes, a cidade gravita entre a extração mineral e a não mais próspera indústria de tecidos para fraldas. 
    Pois vamos ao que conta o Henriques...

    “Meu caro Chico, foi um prazer imenso encontrá-lo. Pelo menos nisso o mundo virtual nos facilita. Como também proporcionou que soubéssemos o imenso número de pessoas estúpidas e sem capacidade para o convívio com aqueles que pensam diferente. A internet ajuda a desmascarar muitos.

    Mas tudo ainda gira em torno do ridículo humano, de suas vaidades e do jogo da hipocrisia em apontar o dedo para outros que possuem as mesmas falhas que se criticam.

    E na política? Mais risíveis são os políticos carcarenses. Fazem discurso da moralidade, mas em salas fechadas fazem acordos que até o capiroto dúvida. Na verdade, tenho certeza que o “sete peles”, o tal do canhoto de encruzilhada, anda fazendo estágio entre a Prefeitura e Câmara de Vereadores, tantas são os “acordos” realizados que só servem para agradar poucos e desfavorecer muitos. Ouvir falar que bolsos saem cheios e os sorrisos chegam nas orelhas.

    Agora entendo porque minha mulher quer ir embora. Aqui o truco é pesado. E mulher sabe o que faz. Sente cheiro do errado no ar. Por falar em mulher, aqui a primeira dama é quem manda e coça a virilha. Dizem que é tanto que até o prefeito, eleito nas costas da herança, não faz nada sem antes consultar a esposa.  “Querida, o Creison chegou aqui e está reclamando que ainda não nomeei o filho dele, o que faço?”. Parece piada, mas o negócio é assim mesmo. Ele teve os votos, mas quem cospe no chão é ela. E ai dele se não obedecer ao riscado. Se ela mandar, tem que fazer tintim por tintim. Do contrário, nem entra em casa.

    Já que toquei no assunto de política vou contar que o negócio aqui está fervendo, tá um caldeirão de piche. Isso mesmo, de piche. Governar aqui é asfaltar. Pouco importa que na escola não se ensina; dê asfalto. Também não importa se não tem nem remédio no Posto de Saúde ou, ainda, se o carcarense tem que agendar uma consulta de emergência para... depois de 6 meses. Mas asfalto tem. Tem até onde não precisa. Dizem as más línguas que a política daqui é feita com inspiração no Presidente Washington Luiz, aquele do final de 1920, que afirmava que governar “é abrir estradas”. Isso mesmo, só que aqui é asfaltar. O resto é besteira. A cidade está abandonada de suja, mas o asfalto estala no sol. Emprego? "Ah, o que tem tá bom", pensam. Lazer? "Para se ter lazer é só ir para a capital", respondem. “Lazer de pobre é cachaça com cerveja barata", diz o assessor. "Mais do que isso é luxo", completa outro. Parece que o progresso é ter um carrão importado rodando. Isso é bom para quem tem carrão já que o povo mesmo chacoalha espremido nos ônibus que são mais velhos do que meu neto de 10 anos. 

    Não sou de fofocas, mas está dando gosto de ver o circo pegando fogo. O problema é que somos nós da população que estamos levando chumbo no lombo.
     
    Fiquei sabendo que na semana que entra, teremos na Câmara uma séria denúncia contra o prefeito. E dizem as más línguas que quando soube o que está acontecendo, começou a gritar e fazer birra igual menino que perdeu a chupeta. Contaram que só acalmou quando a esposa ligou sem poupar na língua. “Para de palhaçada. Vai dar tudo certo, mas não fique bebendo no gabinete; os funcionários estão dizendo por aí”, ouviu-se no viva-voz.

    Conforme o disse-me-disse tem denúncia sobre contratos de concorrência que foram levadas ao Ministério Público e agora vão parar na tribuna da casa de vereadores. Para tentar baixar o fogaréu, escalaram um auxiliar que se apresenta como uma espécie de doutor panaceia; o homem que sabe de tudo, faz tudo, e conhece todas as fórmulas de sucesso. O incrível que nunca teve esse propalado sucesso. Sempre esteve pendurado em favores aqui e ali. Pulando de empregos como pulga no asfalto quente. Agora o assessor participa em programas de rádios de futricas municipais para explicar. Deveria se até se chamar Rolando Lero tanto é o empenho.

    Mas pelo que soube a história é grave. Muito grave. Durante muitos anos, a única ponte que corta o Rio do Tejuco estava no cai-não-cai. Em época de campanha eleitoral, promessas de que será arrumada de vez. Acho que até prometeram que será daquelas que levantam o piso, igual a ponte inglesa sobre o Tâmisa. Mas passado a eleição, nada é feito. Com pompas, há três anos bateram no peito: “agora a obra sai”. Uma maquiagem aqui, outra acolá. O que chama a atenção, além do ritmo de tartaruga, que tudo parece ser feito com péssimo material e acabamento. Um vereador chegou a interpelar a empreiteira, mas... Sabe o que aconteceu? Ninguém sabe do responsável pela reforma. Sumiu como num passe de mágica. Outros dizem que foi abduzido pela nave irmã daquela que largou o Et de Varginha para trás. O problema é que nessa brincadeira já desapareceu muito dinheiro. E ficou a pergunta “Cadê o empreiteiro?”. Eu, meu amigo, até pergunto mais inspirado no Fantástico da Rede Globo: “cadê o dinheiro que estava aqui?”.

    Mas nada que já está ruim não pode piorar. Janjão Pipoca, o Presidente do Legislativo, com mais furos do que peneira de bambu, fica mais preocupado em sua reeleição. Foge de polêmicas. Também não quer enfrentar o prefeito. Apesar de afirmar independência, “come nas mãos do homi”. Pelo menos é o que corre à boca pequena. Pessoalmente acho maldade, apesar de que o povo aumenta, mas não inventa. 
    A grande pergunta aqui no Morro do Carcará é “onde está o empreiteiro?”. Um mistério mesmo. A assessora de imprensa do município finge que nem sabe sobre o assunto. “Quero mais likes na foto do asfalto”, exige dos seus subordinados como se fossem responsáveis pelo baixo engajamento popular. 

    Na verdade, meu caro Chico, é tudo um brejo a espera da próxima vaca... ou boi. 

    Nas últimas eleições prometeram segurança (ainda vou te contar sobre), mas nada. Educação? Onde?  Saúde? Está doente. Lazer? Está em falta, mas tem cachaça... Esportes? Jogo de palitinhos, a purrinha, serve? 

    Sei que é curioso e vou te contar mais. Aguarde. Na próxima sexta-feira a Câmara vai se reunir. Espero ter surpresas para te contar. Mas até lá a pergunta que fica é, afinal, CADÊ O EMPREITEIRO?

    Vai o meu abraço. Espero notícias da terra também. 

    Henriques.”
    Por Chico Aguiar.

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