Crônica de Chico Aguiar
ATENÇÂO: “Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”.
E ao abrir a caixa postal no último sábado, o chamado Sábado da Aleluia, deparo-me com mais um e-mail de meu amigo, o professor Joel. Ele está criando, às vezes sem intenção, uma pequena tradição. Chegou sábado, com certeza há uma carta eletrônica do mais novo habitante da distante Morro dos Carcarás. Apesar de ser uma cidade próxima à serra da Cobra, é quente, muito quente, diz o meu amigo. Por sinal, relatou sobre a revoada de Aedes e a disparada de pacientes com Dengue. Acho melhor transcrever o que ele conta:
“Chico, Chico de Deus, você não imagina nem de perto o caos que essa terra de Carcarás passou nas últimas semanas. Por causa do mosquito muita gente baixou ao hospital e aos postos de saúde. Nesse meio tempo até mesmo os auxiliares de enfermagem, os enfermeiros e os médicos tombaram diante do pernilongo. Podia até somar o número de casos daqui do Morro com três cidades da nossa região. O resultado nem se aproximava do número de doentes daqui. Eu nem quero julgar, “mas e as otoridade?”, pode estar perguntando. Nada, nadica de nada. Fingiram desconhecer o caos que se instalou. Até as rádios daqui, quase oficiais, se é que me entende, começaram a alertar sobre a situação. Ouvi dizer da escalação do doutor Panaceia para encarar os microfones, só que é conhecido por soltar frases de humor duvidoso. Ficou mudo sobre o assunto, não teve remédio. Parece brincadeira, mas realmente não havia remédios para atendimento da população. E ficou no joguinho de colocar a culpa no governo estadual e federal. Alguns diziam que era falta de dinheiro, outros afirmavam que era uma questão de logística. Enquanto isso, a cidade se dirigia à modernidade dos anos de 1940 com o asfalto. Não é piada não. É asfalto pra cá, asfalto pra lá...tudo numa gastança sem freio. Eu acho que esse dinheiro poderia ser aplicado em obras mais importantes, com mais prioridade em, por exemplo, a Saúde e, principalmente, a Educação. Os mais maldosos, diziam na esquina da praça de São Dimas, no Café Tonelero, que o asfalto era mais importante, tanto que a prefeitura tirou dinheiro do orçamento da Saúde para aplicar no asfalto. “Se alguém passar mal, com asfalto novo não vai sacolejar indo na ambulância do Samu”, ouvi. No que outro remendou: “volta sem remédio, mas faz um passeio sem balançar muito”. Piadas à parte, uma administração voltada realmente para o futuro e sem demagogias é aquela que investe bem em Educação. Com Educação mudamos toda a sociedade.
Sobre a dengue? Felizmente estamos saindo do período das chuvas, o que diminuiu os criadouros dos mosquitos. Só que existe uma interrogação instalada na minha cabeça: se agora estamos numa época que os números de casos da dengue caem, por que a prefeitura de Morro dos Carcarás está contratando quase duzentos agentes de controle, aqueles que vão de casa em casa? E tenho outras indagações: por que não fizeram campanhas contra a dengue lá pelo fim de dezembro do ano passado e aí, sim, contratariam mais agentes? O alerta evitaria a proliferação da doença. Mesmo assim “a minha pulga atrás da orelha” é na verdade mais pra “caroço debaixo do angu”: o mosquitinho aparece somente nas eleições? É porque é coisa boa. Não a doença, é lógico. Mas é boa para arranjar emprego para quase duzentos carcarenses em dias com suas obrigações, principalmente eleitorais. Depois do surto de dengue vão contratar gente para combater o quê? Chico, você entendeu, né?! E lá vai dinheiro da população. Escutei à boca pequena que o Secretário de Finanças está dando um “piti” danado, com direito a pulinhos e mãos fechadas, alertando sobre o Caixa estar no chamado “limite prudencial” com os gastos.
Depois não digam que há perseguição. Quando não é um, é o outro.
Por falar no outro. A reunião da Câmara que aconteceria na sexta foi antecipada em razão do feriado de Sexta-Feira da Paixão. Os vereadores se reuniram na quarta mesmo. Mas aconteceu algo que me faz recordar...sim, estamos num ano de eleição e tudo pode acontecer. Aqui, os vereadores de olho nas urnas, “legislaram” aumentando despesas para o Executivo. Vou explicar. Colocaram numa Lei que veio da Prefeitura, vantagens para alguns cargos da administração que aumentou o gasto. Entendia não ser possível, mas aqui acontece coisas que “até Deus duvida”. De qualquer forma, encomendaram pizzas para depois da reunião.
Já que estamos adentrando o período de caça ao eleitor, entram em campo os discursos em festas. Entre a folia pela inauguração, muitos sorrisos e oratórias de “muito apreço” pelo fulano “que desenvolve um trabalho importante para o desenvolvimento da nossa comunidade, quiçá pela região”. Hilário que tudo era feito para esconder que o dinheiro daquela obra fora obtido pelo adversário político. Às vezes me pergunto se essa gente ainda acredita que consegue enganar a população? Eles acham que o povo é bobo.
No próximo mês será o aniversário da emancipação de Morro dos Carcarás. O benfeitor da cidade, coronel Osmar Cremado. Instalou-se na região pelo início dos anos 1900. Montou um Seco & Molhados nas beiras do Rio do Tejuco, pro lado contrário do Porto dos Três Vinténs. Fez fortuna. Anos depois, com a venda de café e, posteriormente, com a aposta em ações preferenciais do Banco do Brasil ficou mais rico ainda. Lá pelos anos 20 resolveu que entraria na política. “Coroné Quemado”, como o povo o chamava, foi o chefe do Executivo carcarense por quatro mandatos e ajudou a eleger filhos, sobrinhos e netos aos mais diversos cargos. Teve até deputado. Atualmente nenhum de seus herdeiros corre atrás de votos. Quando fui levar as pizzas na Câmara ouvi que farão uma festa de arromba para marcar o centenário do município. Tomara que sim. Quando se faz festa aqui no Morro dos Carcarás, sei que tudo acaba em pizza.
Hoje não vou contar mais coisa não. As encomendas aqui na pizzaria estão a todo vapor. A história daquelas que enviamos para a Câmara depois da reunião da semana passada, foi uma gigantesca propaganda. Um falou para outro, que comentou com a vizinha, que falo com o compadre e.... Uma avalanche de pedidos. Por isso não vou me prolongar. Tenho que ajudar a Priscila na organização dos pedidos. Aqui ainda será considerada a Terra da Pizza às margens do Tejuco. Pode anotar aí.
Abraços, meu amigo.
Joel”
Por Chico Aguiar.
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