728x90 AdSpace

Energisa
  • Últimas

    Sicred Natal Magalu
    quinta-feira, 4 de julho de 2013

    VIDEO: Estado de Minas Gerais não tem estrutura para internações compulsórias

    Apesar das divergências sobre a efetividade da medida, especialistas concordam que ainda não existem locais adequados.

    Internações compulsórias para usuários de Drogas em Minas Gerais“Recebemos um usuário que foi levado por dois policiais. Ele chegou algemado e os agentes me entregaram o mandado judicial de internação”, contou o pastor Wellington Antonio Vieira, presidente da Federação das Comunidades Terapêuticas Evangélicas do Brasil, em audiência pública da Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

    A reunião, realizada em abril, tratou de um dos temas mais polêmicos quando o assunto é tratamento de usuários de crack: as internações compulsórias. As ações de combate ao uso de drogas, o tratamento dos dependentes químicos e a aplicação da justiça terapêutica foram alguns dos temas abordados no Ciclo de Debates Um Novo Olhar sobre a Dependência Química, da ALMG, que também promove uma série de matérias sobre o assunto e organiza a 2ª Marcha contra o Crack e Outras Drogas.

    O pastor Wellington Antonio Vieira acredita que os
    dispositivos existentes hoje não são suficientes.
    Foto: Guilherme Bergamini
    “Meu advogado disse que eu tinha duas opções: internar o usuário ou ser preso. Internei e ele fugiu dois dias depois”, disse o pastor Vieira, evidenciando que as comunidades terapêuticas não têm estrutura para receber usuários dessa forma. “A essência do nosso trabalho está no desejo que o usuário tem de se curar. Nossas estruturas não contam com muros altos, cadeados, nada disso”, explicou.

    Um dos maiores entraves para a realização de internações compulsórias, mesmo para os defensores da ideia, é a falta de uma rede especializada e preparada para tratar os usuários. Não são apenas as comunidades terapêuticas que não possuem essas estruturas. Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), por exemplo, contam com poucos leitos e seu tratamento não está baseado na internação.

    “Muitas vezes, os dependentes químicos são internados em locais especializados em tratamento de saúde mental. Isso é inadmissível, essas pessoas precisam de tratamentos totalmente diferentes”, diz o deputado Vanderlei Miranda (PMDB), presidente da Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e outras Drogas.


    Agilidade nas internações compulsórias

    Atualmente, os usuários são internados quando são expedidos mandados judiciais. “É comum sabermos que algum dos atendidos foi internado compulsoriamente e, algumas semanas depois, o encontramos de novo nas ruas”, conta Bárbara Ferreira, psicóloga dos consultórios de rua de Belo Horizonte.

    Em todo o País é discutida a possibilidade de se desburocratizar essa medida, e São Paulo foi a primeira cidade a dar um passo nesse sentido. Na Capital paulista, o Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod) conta, desde janeiro deste ano, com juízes e promotores de plantão para atender casos de urgência. Se for atestado que um usuário não tem domínio sobre sua saúde e condição física, o juiz pode solicitar sua internação imediata.

    Em Minas Gerais isso ainda é feito, em geral, a partir da solicitação das famílias. A diretora do SOS Drogas, Érica Barezani, diz que a instituição recebe mensalmente dezenas de pedidos de internações desse tipo. “Na maioria das vezes as famílias já não sabem mais o que fazer. Em alguns casos, nossa equipe, que visita essas famílias, consegue contornar a situação e oferecer outras saídas, inclusive convencendo o usuário e conseguindo sua anuência para realizar o tratamento”, disse.


    Uma das maiores críticas a esse tipo de internação relaciona-se ao perigo de que elas sejam feitas indiscriminadamente, como forma de limpeza das ruas da cidade. O presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas, Aloísio Andrade, diz que é pouco provável que isso aconteça, já que as internações nunca são feitas à revelia de laudos psicológicos. “Somos contra internações compulsórias mal indicadas, isso só será feito para proteger as pessoas”, disse.

    Segundo Andrade, está sendo estudada a possibilidade de se criar a Associação de Proteção e Amparo ao Dependente (Apad), nos moldes como hoje funciona a Associação de Proteção e Amparo ao Condenado (Apac), com doação de terrenos das prefeituras, verba estadual e uso de trabalho voluntário.

    Por enquanto, porém, ainda não há estruturas suficientes para receber os dependentes – e esse é o único ponto de concordância entre os especialistas. Se não há unanimidade sobre como tratar os dependentes, menos ainda se sabe sobre o pós-tratamento. O presidente da ONG Resgate Urbano, Helbert Souza, chama atenção para esse fato ao dizer que é ex-dependente e que o momento mais difícil sempre foi a saída dos meses internados. “É quando perdemos todo o apoio”, diz.

    Tema divide opiniões

    Wesley Freitas
    O assunto é polêmico. Internações compulsórias contam com defensores e acusadores igualmente munidos de bons argumentos. Durante a reunião que discutiu o assunto na ALMG, por exemplo, o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) surpreendeu ao dizer que perdeu um irmão vítima do abuso de drogas, mas, ainda, assim, é veementemente contra as internações compulsórias. “Quando observo como foram feitas e quais foram os efeitos que as internações compulsórias tiveram em várias momentos da história, como quando eram a política em relação aos doentes mentais, penso que essa não é a solução, não tenho nenhuma simpatia pela proposta”, disse.

    Na mesma reunião, o representante da Federação Nacional das Comunidades Terapêuticas Católicas e Instituições Afins, Wesley Freitas, defendeu posição contrária. “Quando um paciente é diagnosticado com algumas doenças, ele é obrigado a se internar independentemente da sua vontade. Se não o fizer, ele e o médico podem até ser responsabilizados criminalmente. É o caso da tuberculose, por exemplo. É assim porque essa pessoa pode transmitir a doença e passa a ser um risco para outros. Com a droga é mesma coisa”, disse ele, que também é enfermeiro em um hospital de Governador Valadares.

    A Comissão de Prevenção e Combate ao uso de Crack e outras Drogas da ALMG continua realizando reuniões e ouvindo especialistas de todo o Estado para tentar elaborar uma política mais eficaz no tratamento dos dependentes.
    • Comente no Site
    • Comente no Facebook

    0 comments:

    Postar um comentário

    Item Reviewed: VIDEO: Estado de Minas Gerais não tem estrutura para internações compulsórias Rating: 5 Reviewed By: Mídia Mineira
    Voltar para o Início